Mais espaços terapêuticos e canais de divulgação ajudam a desmistificar aspectos do transtorno na sociedade
Nos últimos dez anos, tem-se observado um aumento nos casos diagnosticados de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Nos Estados Unidos, por exemplo, o número de casos de autismo saltou de 1 a cada 150 crianças com 8 anos de idade, em 2000, para 1 a cada 36, em 2020. O levantamento é do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Embora o Brasil não disponha de dados específicos sobre essa população, muitos especialistas observam uma tendência crescente na procura por consultas visando alcançar o diagnóstico preciso desses pacientes.
Um dos fatores para a alta busca se deve ao fato da divulgação ampla de informações sobre o espectro do autismo, o que tem desempenhado um papel crucial na conscientização e na capacidade de identificar precocemente os sinais dessa condição.
Maiores espaços terapêuticos e canais de divulgação que ajudam a desmistificar aspectos do transtorno na sociedade fazendo com que esses conteúdos alcancem um número muito maior de pessoas, o que objetiva um olhar mais atento, frente aos sinais do Transtorno do Espectro do Autismo.
De acordo com Marília Cléa Sampaio, especialista em Neuropsicologia e psicóloga da Clínica Ninho, o diagnóstico ajuda a família identificar e a lidar com as dificuldades do filho.
“Desde bebê é possível observar características pertinentes, como olhar vago, inquietação, forma diferente de brincar, desregulação emocional constante, sono agitado, não buscar outras crianças, movimentos repetitivos e estereotipados, como balançar as mãos, movimentos giratórios. Com 18 meses é possível fechar o diagnóstico mediante as manifestações do quadro clínico. Independente do diagnóstico a criança deve iniciar intervenção terapêutica, para estimular as áreas que estão com déficits. O diagnóstico permite que a criança tenha acesso a estimulação nas áreas em defasagem, seja na fala ou na comunicação, comportamento cognitivo e emocional”.
A importância do diagnóstico precoce do autismo, não significa que se está acelerando o processo para obtenção de uma resposta mais rápida, mas também a antecipação dos suportes necessários.
Na Clínica Ninho, a nossa equipe multidisciplinar oferece acolhimento tanto às crianças quanto às famílias que buscam atendimento.
“ A família realiza o acolhimento com a supervisora clínica e com a criança presente e laudo em mãos, caso já tenha passado por avaliação neuropediátrica e ademais consultas, ou exames, que corroborem na explicação do neurodesenvolvimento. De modo que naquele momento torna possível observar a forma como o paciente se apresenta e sua interação com o meio. A entrevista com os pais ou cuidadores tem perguntas pertinentes ao desenvolvimento infantil, com tópicos do histórico social e genético, social, afetiva, cognitivo e comportamental.
Além das orientações da equipe multidisciplinar, que atendem seu filho, eles possuem momento de acolhimento com a psicóloga que desenvolve um trabalho em grupo com as famílias, pois sabemos que por trás de uma criança existe uma família que deixa de ocupar outros espaços para acompanhar as terapias do filho, e essas demandas não se restringem a levar a criança à clínica, mas enfrentar todos os desafios de inserção do filho (a) nos meios que ele pode e tem o direito de ocupar, além disso, muito não tem uma rede de apoio”.
Ainda segundo Marília Cléa, durante o processo de desenvolvimento da criança é preciso ficar atento a tríade: comunicação, sociabilidade e comportamento.
“Se há atraso no desenvolvimento da fala, na reciprocidade social, se apresenta comportamento e formas de brincar incomum para a idade. Uma fala ausente, ou com pouco repertório, pode haver comunicação disfuncional, repete falas de desenhos, ou a pergunta que foi direcionada, chamamos de ecolalia tardia e imediata. Pouco interação com o ambiente, prefere objetos ou adultos, do que outras crianças da mesma faixa etária, pouca compreensão da ludicidade (brincadeiras, jogos), pode ter o cognitivo preservado, ou menor rendimento no aprendizado, precisando de adaptações, como pistas visuais. Esses são alguns dos pontos a ligar o alerta quanto ao desenvolvimento da criança, para que o neuropediatra realize observação clínica e entrevista com os responsáveis para traçar metas de intervenção”, finalizou.